Deixar Fluir… Mãos e Criatividade

Este surpreendente e inusitado romance de Mathias Énard conta a estória de Michelangelo durante um período em que ele foi à Constantinopla, a pedido do Sultão de lá, o ‘grão-turco, para conceber e desenhar uma importante ‘ponte’ para a região; mais especificamente uma que transpusesse o ‘Corno de Ouro’, famoso canal do período bizantino.
E assim começa o processo criativo, que vai desde a observação da cidade, seus aromas e sons, até as pessoas, seu comportamento, suas essências, seus afetos. 
Assim aparece Manuel, um ‘assistente-amigo’, com quem o Maestro conversa com frequência, e a quem ensina alguns princípios bem básicos do ato de desenhar, ‘criar com as mãos’; e diz “HÁ DE TUDO NUMA MÃO.” Faz-se com uma Mão observando Outra. Nela estão todos os detalhes necessários para uma manifestação maior, mais poderosa. Mas tudo começa nela, no detalhe, na veia, no osso, na textura da pele que se dobra ao menor arrepio. É dali também que vem a essência do ato de criar: a observação delicada e meticulosa.
Não obstante, Michelangelo avança: “Confie no seu olho. Repita até aprender”, sugerindo que o importante é colocar a MÃO NA MASSA e deixar fluir. Fechar os olhos e enxergar, pois vêem no escuro. Sentem, e junto com as mãos, tocam. Faça isso uma vez, duas, dezenas de vezes… e depois repita de novo.
Está aí uma das receitas do processo artístico. Em “Falem de batalhas, de reis e de elefantes”, uma parte da história do gênio criativo do ‘Maestro’ é contada, e com habilidade, delicadeza, humor e um pouco de fantasia, que deixa a narrativa ainda mais interessante. Uma ode à arte e uma aula de história e criação, tanto pela audácia do autor, como pelas aventuras do personagem principal.

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