Discurso e Postura

Ele falava e os outros escutavam. Bastava abrir a boca e lá estavam dezenas, se não centenas, talvez milhares a postos para receber o seu discurso essencial. Os bichos se calavam: a cigarra parava de cantar, as formigas de trabalhar, o leão de ser caçador, sentava. Apaixonadas zebras vestiam de volta suas listras, os sapos se descolavam e as araras de eternas mãos enlaçadas se soltavam brevemente para contemplar aquele som ao longe, um canto.

O ambiente se aquietava para escutar; as folhas paravam de balançar como se o vento tivesse deixado de existir, o rio agora estava calmo e os peixes só nadavam na corrente, nunca contra, mas fluindo; nas margens descansavam os já imóveis jacarés, crocodilos e afins do meio sol, que este também resolvera se acomodar por entre leves e vaporosas, ralas e espaçadas, lânguidas nuvens que se desfaziam à menor moção da preguiçosa brisa.

A natureza estava estática assim como as pessoas nela residentes; todos ao dispor do movimento corporal e labial daquele que tinha o feitiço em mãos: a comunicação. Sim, a magia do formato da expressão, aliada ao conteúdo relevante do momento. & Plim, e todos estão lá boquiabertos na espera da enxurrada cativante, das palavras, das pausas engenhosas, do volume, do teatro das caras e caretas e dos gestos calculados que culminam em ovação.

Por fim o herói respira, satisfeito. E ao entoar o seu silêncio final, baixando a cabeça em reconhecimento, devolve os movimentos ao mundo que em hiato o esperava terminar: as folhas balançam, as nuvens voam à luz da brisa desperta e as zebras definitivamente se despem das listras; os jacarés mexem um músculo e a borboleta voa.


E Axl, o idoso protagonista de O Gigante Enterrado, de Kazuo Ishguro, elucubra sobre uma ‘solene’ fala do cavaleiro salvador, no ‘grifo’ acima citado. Um trecho que nos provoca sobre a valor da prosa exitosa, aquela que nos congela e que tira do lugar, nos aquieta, nos altera a memória, faz pensar. Aquela que transforma a Ficção em REALidade.

Liderança

Quem segue burro, burro é.
Não sei vocês, mas gosto é de seguir gente competente; gente honesta e inteligente; e não de Face, Insta ou twitter. Digo pessoas reais, presentes que, além de liderarem, fazem, põem a mão na massa e instigam o simpatizante; esses eu abraço, não de olhos fechados, mas de olhos que aprendem, arreganhados, brilhosos, mais que luz no fim do túnel um bom líder é a luz no início dele.
Aos burros, carga.
Ao comando quem instrui, enleva e guia.
Quem segue brutamontes, besta também é; não sabe, desconhece a virtude do seguir sabiamente; talento tem o fiel que sabe onde pisa, onde coloca as fichas; e aí cresce. Torna-se aquele que se espelha e aprende a ser.
A ironia é que jumento tem aí a dar com pau. Saem pelos ladrões e, nutrindo-se de gente precisada de guia, segue cega. E vai, obedece sem ver e sem pensar, conduzida por orelhudos que não ouvem, e caem num ciclo de inaptidão que tende a se eternizar: nem líder nem liderado estão aptos ao cargo; e que fazem? Estercar.
Mas não os magos, bruxos, sábios da ficção Rowlingiana.
Harry Potter e seus amigos não se deixam levar pelo engodo do falso profeta. Via estudo e reflexão, sabem onde ir, sabem o porque das coisas, e quais conselhos acatar. Escolhem, dádiva da vida, conscientemente. Fazem da Fantasia a melhor das Realidades e provam que até a Ficção de Bruxo, nada de Bruxaria tem. Ensina a pratica da optação serena e articulada. Às toupeiras, nada.