Monte Olímpo (Tétis e o Bico Sonhado)

Era como um Monte Olimpo, ele imaginou, a morada dos deuses onde sempre quisera estar.

A caminhada era longa, longuíssima, por isso teria que ser lenta. Não tinha pressa, e sempre fora da jornada. O destino há de chegar-se, naturalmente. Por isso andava tranquilo. Tinha em mãos seus fones de ouvido, e flutuava por meio de blues, jazz, rock e sinapses eletrônicas; suficiência para mantê-lo sempre à frente; focado e entretido.

O sol era opressor; constante. Não havia nuvens. E a miragem, que costuma não existir, mostrava o caminho em direção ao que se propusera o herói. Está logo alí, pensou, enquanto o horizonte não apontava nada; mas em sua mente, tudo. Mordeu os lábios, sentiu desejo. Vislumbrou.

Foi por terra, pela água, no mar. Não voava; tampouco parava, eis o segredo, já dizia o velho sábio, o do ditado. Subidas profundas, descidas celestes e multiplicadas; em uma palavra, jornada. A cada partida, um novo sonhar. A cada chegada, pausa. Um cochilo que sonhava com a imagem ao futuro. E morde os lábios novamente.

A estirada é dantesca; mas já no primeiro círculo, o do inferno, vê água. Um rio vermelho que transborda, e abaixo dele, o fundo do mar que o cega. Mas sem opção, cego-luta. São monstros: lulas-vampiro, peixes-dragão, águas viva-ferventes, é a pré-história marítma tentando embargar a travessia. Mas ele não cede; e com marcas no corpo e na mente, consegue cruzar o portal deixando um longo rastro de criaturas marítimas. 

Emerge pisando na claridade. Enxuga as rúbras lágrimas e enxerga a fortuna que está nos confins. É naquela direção, aponta. Saliva.

A vontade do néctar confirma um possível delírio e o deserto se torna floresta. Caminha tranquilo no desfrute das sombras, deita na beira dum córrego e repousa com peixes agora colegas. Ao som das correntes, das folhas em brisa, enxerga de olhos fechados. À flor da pele sente que o momento está perto. Inspira profundo e confere a direção do destino.

Avança, avança, avança por milhares de quilômetros. O mundo se inclina. Então avança morro acima com pés de Aquiles. Voa pois não tem calcanhares e ascende, e acende rumo ao pico que está também aquecido; desperto, desejoso, um vulcão.

Toca os seios de Tétis, a ninfa do mar; alva é sua cor, e rosa, doce.
Ela os acaricia lenta, levemente cada centímetro, cada curva e sente o monte vibrar, crescer; a pele tremer. Suspira que o ar nesse momento inspira. 

Arrepia.

Ofega que o ar é quente. Lava: uma língua de fogo no alto do monte, e a deusa da água a jorrar labaredas. Ele as sorve. Há volúpia no ato. 

Dos seus lábios deleitosos escorrem gotas em chamas que escorrem Olimpo abaixo; e concretizam o sonho, agora lava endurecida. 

 

Eurico_cp

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