SUSTENTANDO OLHARES

Por que ela não olha para mim? Tem medo? Não gosta? Mas nem me conhece. Serei assim tão acanhado? E eu por que não o encaro? Por que não consigo pegar-aquele-par que está justo ao lado do meu? Pegar olhares,
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Uma Pincelada de Quadrinho

Casa de ferreiro, espeto de pau, já dizia o velho ditado que eu cumpria à risca: nunca fora ao topo daquela montanha que ficava ao lado de onde eu morava. Já tinha ouvido falar sim, inúmeras, mas como já disse,
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Uma Machadada na Cabeça

“Como é que foi?” “Fui convidado pela Estela. Na verdade, pelo marido dela, que já vai lá faz tempo. Ele já tinha me convidado várias vezes, inclusive. Sempre que a gente se encontra ele me convida. Um dia não teve
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A Vingança do Zigoto

De tanto que pisou em ovos, acabou sem sapatos. Mas sobraram os fios que, agora cadarços amarelos, serviriam a um outro propósito. Descalço e com os pés em carne viva, voltou os doze quilômetros a pé para casa e encontrou
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Nascer, Gozar, Criar

“Outro dia me disseram que nessa vida temos que exercer a liberdade, que sem ela somos nada, ou quase: ’eu-robô’, copião, tecla tecla e a marchinha sem tesão, um após o outro enfileirados, terno e gravata ou terninho, sainha, pantalona ou
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UTOPIA

Não queria que assim fosse, que sua avó fosse tão brava, ou a mãe tão enjoada, que a tia falasse tanto, o primo hesitante. O outro um avarento, que fosse só pão duro, amolecido. Não queria que o mercado fosse
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Magrela

Outro dia comeu uma tartaruga.  No outro um avestruz. Anteontem Zebra, uma listra atrás da outra. Ora Mico Leão, Ariranha e até Urubu, bastava andar, correr, rastejar ou até nadar, vide a fase dos pinguins.  Ora em pé, deitado ou
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Líquidos

Uma das melhores coisas de se envelhecer junto, e de pertinho, é não ver a idade passar. O tempo parece ser menos cruel com aqueles que convivem, sejam amigos, namorados, marido e mulher. Qualquer que seja a configuração, quando nutrida
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Caos

“… entre o conhecido e o desconhecido, havia, e há esse mar de cinza, esses infinitos tons que eclipsam o maniqueísmo das coisas: a dualidade que insiste em habitar aqueles que se deixam reger pela polaridade do mundo. Para os
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Sono Falta

Acordou. Como se nada tivesse acontecido, ou simplesmente sonhado, acordou. Depois de setenta e duas horas embaixo das cobertas, serenamente despertou para o dia que lá fora brilhava. Do lado de dentro, ainda escuro, alívio. Todos que passaram pelo quarto
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Desengonço

Após o banho da manhã, ele vestiu as calças, colocou as meias, os sapatos, se aprumou, e espelho. Sorriu confiante, correspondeu ao reflexo e foi tomar o café. Antes disso, uma passadinha no banheiro dos felinos para limpar as caixinhas
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Invasão de Domicílio

Via o dedo de longe, chegando sem hesitação, entrando na sua caverna. Imediatamente todos recuavam contra a parede e espreme-espreme. Depois o aperto, o grude e o medo, que ironicamente logo passava assim que algum amigo era arrancado para fora;
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FARPAS

Lá estava ele, todo enroscado na cerca. Havia sangue. Não muito, mas escorria pelos pequenos furos que tinha na pele e pingava na areia que logo o absorvia. Dos furos maiores vinha um fluxo mais grosso que também acabava na
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A Maior Sorte do Mundo

Enquanto caía, refletia. Logo ao nascer, meio que já via a morte, chegando e se mostrando cada vez mais de perto, e rapidamente. Era como o salto proposital de cima de um edifício, uma ponte ou avião sem paraquedas, mas
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Amor de Pedágio

Amor de Pedágio Toda semana, duas ou três vezes, as sete da manhã ele pegava o carro para ir ao trabalho. Operava o monótono tic-tac das planilhas financeiras durante todo o dia, e voltava já tardinha, mesmo-caminho-sentido-contrário, passando pelos quatro
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Perfume de Chuva

“Eu acho que devia existir um perfume de chuva. Um perfume daqueles, entorpecentes. Daqueles que te fazem parar, olhar ao redor e fechar os olhos. Um rodopio inebriante, você quase cai no chão, mas continua a procurar pois já virou
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Por que eu escrevo?

Ela queria escrever. Seu pai não queria. Optou por si. Taí, já de cara, o primeiro motivo: ser-se. Manifestar-se. Vomitar a vontade e saborear a cor que se produz. Quero então, e escrevo primeiramente sobre o desejo, que é esse
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Formigas tem Pernas Curtas

Foi um daqueles casos cujo intento era outro, mas que acabara como sempre. É surpreendente quando Nietzsche acerta na mosca ao dizer que as coisas sempre retornam, sempre repetimos comportamentos aprendidos, cristalizados; o eterno retorno de todas as coisas, para-todo-e-sempre.
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Exageros de Pandora

Gostosos como são todos os exageros, exagerei. Mas não no começo, quando ia tudo muito bem. A viagem de ida fora um tranquilo passeio à cidade das flores, seguida de duas saborosas reuniões: a primeira numa confeitaria defronte a um
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Pássaro em construção

A gente nunca sabe quando alguém vai enlouquecer; e a gente sabe ainda menos se esse alguém pode ser um amigo, uma amiga, um conhecido nosso. É sempre uma surpresa extraordinária, um ‘uau’, um ‘não acredito’ ou ‘quem poderia imaginar’.
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As Tranças e a Lei

Ela queria, ela podia. Se tinha tinta, pintava. Depois emoldurava. Pregava na parede da cozinha, torto. Se papel, escrevia; se grafite, apagava; se caneta, eternidade. Se tinha dinheiro no bolso, viajava, e lá, gastava, comia, restaurante, massa; vermelha. Se taça,
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