
Hoje eu acredito, mas antes, quando me diziam que a gente nunca conhece de verdade as pessoas, não acreditei, e de jeito nenhum; muito menos quando a pessoa em questão é muito próxima da gente. Acho que eu tinha por
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Hoje eu acredito, mas antes, quando me diziam que a gente nunca conhece de verdade as pessoas, não acreditei, e de jeito nenhum; muito menos quando a pessoa em questão é muito próxima da gente. Acho que eu tinha por
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Dizem que a vida-casada pode ser por vezes monótona; ou até sempre, pregam aqueles que perduraram pouco no rolê. A relação vira uma amizade, dizem outros; parceria de vida, os que perduram a eternidade. Para esses a água morna é
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Eu o via de longe, aos poucos ofuscando a nossa claridade; obstruindo a nossa única janela. Nossa única porta, nossa entrada. E vinha sem hesitar. Sem um respiro, imediatamente começávamos a recuar. Íamos até onde podíamos; até nos espremermos em
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“É por isso que eu casei com você Pina, porque você é boa na pipoca.” A frase é dita sem pretensão, mas certamente com malícia, num dia em que Abelardo, amigo do casal, aparecera por lá, na casa deles para
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Acordou. Como se nada tivesse acontecido, ou simplesmente sonhado, acordou. Depois de setenta e duas horas embaixo das cobertas, serenamente despertou para o dia que lá fora brilhava. Do lado de dentro, ainda escuro, um alívio. Todos que passaram pelo
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No momento em que o tema é dado, a caixa se rompe. O ditado vira realidade. Vão ter que ‘pensar por fora’. Assim como o conceito recém criado por ela, a professora que vivia por dentro do que não existia.
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Era como um Monte Olimpo, ele imaginou, a morada dos deuses onde sempre quisera estar. A caminhada era longa, longuíssima, por isso teria que ser lenta. Não tinha pressa, e sempre fora da jornada. O destino há de chegar-se, naturalmente.
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O tempo não passa, meu deus. E o que é que eu estou fazendo aqui? Não! Eu sei por que estou aqui. Só não acredito. “Seu delegado, pode acelerar?” “Calma aí, senhora; eu sou o assistente dele. O delegado
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“… entre o conhecido e o desconhecido, havia, e há esse mar de cinza, esses infinitos tons que eclipsam o maniqueísmo das coisas: a dualidade que insiste em habitar aqueles que se deixam reger pela polaridade do mundo. Para os
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Gostosos como são todos os exageros, exagerei. Mas não no começo, quando ia tudo muito bem. Ou quase tudo, pois logo ao chegar à casa do meu melhor amigo, o melhor amigo de todos os homens, Wiskie, o cão, desconsiderou
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Se soubesse do perrengue de antemão, teria pago pelo quarto individual. Mas como a economia também fala alto – mais tarde descobriria que se ouve ainda mais -, optei pelo coletivo; contrariando, inclusive, o bom senso de evitar intimidades contraproducentes.
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O carioca queria me comer de qualquer jeito, então resolvi provocar o cara. Depois de uma festinha na noite anterior e algumas mensagens na manhã seguinte, deixei-me seduzir para o providencial mirante, que eu ainda não conhecia, apesar das inúmeras
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Por que ela não olha para mim? Pois está olhando para outra, simples assim. E o outro, por que também não? Seus olhos já estão ocupados? Sim, é claro que sim. Mas os meus estão livres; onde está o meu
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Paro o carro, puxo o freio de mão, abro a porta, desço do carro. Fecho a porta, caminho uns sete passos, eu contei, até a porteira. Destravo. Caminho com ela até abrí-la totalmente. Deixo-a aberta. Volto ao carro. Abro a
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Ouço meus passos. Cada um deles, um pé depois do outro; outro dia até de meias. No assoalho, de noite, escorregando em silêncio pelo corredor, lá estava ele, o som. No banheiro, o som das águas. No chuveiro-cachoeira. Na volta
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Lá estava ele, todo enroscado na cerca. Havia sangue. Não muito, mas escorria pelos pequenos furos que tinha na pele e pingava na areia que logo o absorvia. Dos furos maiores vinha um fluxo mais grosso que também acabava na
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Tenta abrir os olhos. Lentamente e pouco. Não se mexe. Espera. Pelo que, não sabe; não sabia de nada àquela hora. Que horas são? pensa. Não fala porque não tem voz. Está seco, seus lábios grudados querem ao menos gotas,
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A arte de pedir e aceitar favores deveria realmente ser tratada como arte, pois tanto quem pede como quem aceita acaba por confeccionar uma obra, seja ela a composição de uma música, a pintura de uma tela, a redação de
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Quando a moça do caixa falou o preço do chapéu, ele até deu risada. Não pelo preço que normalmente nos faz rir, mas pelo que faz a gente desconfiar. Cinquenta reais. Absolutamente, barato, mas para ele, que há anos procurava
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Casa de ferreiro, espeto de pau, já dizia o velho ditado que eu cumpria à risca: nunca fora ao topo daquela montanha que ficava ao lado de onde eu morava. Já tinha ouvido falar sim, inúmeras, mas como já disse,
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“Como é que foi?” “Fui convidado pela Estela. Na verdade, pelo marido dela, que já vai lá faz tempo. Ele já tinha me convidado várias vezes, inclusive. Sempre que a gente se encontra ele me convida. Um dia não teve
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De tanto que pisou em ovos, acabou sem sapatos. Mas sobraram os fios que, agora cadarços amarelos, serviriam a um outro propósito. Descalço e com os pés em carne viva, voltou os doze quilômetros a pé para casa e encontrou
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“Outro dia me disseram que nessa vida temos que exercer a liberdade, que sem ela somos nada, ou quase: ’eu-robô’, copião, tecla tecla e a marchinha sem tesão, um após o outro enfileirados, terno e gravata ou terninho, sainha, pantalona ou
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Não queria que assim fosse, que sua avó fosse tão brava, ou a mãe tão enjoada, que a tia falasse tanto, o primo hesitante. O outro um avarento, que fosse só pão duro, amolecido. Não queria que o mercado fosse
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Outro dia comeu uma tartaruga. No outro um avestruz. Anteontem Zebra, uma listra atrás da outra. Ora Mico Leão, Ariranha e até Urubu, bastava andar, correr, rastejar ou até nadar, vide a fase dos pinguins. Ora em pé, deitado ou
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Uma das melhores coisas de se envelhecer junto, e de pertinho, é não ver a idade passar. O tempo parece ser menos cruel com aqueles que convivem, sejam amigos, namorados, marido e mulher. Qualquer que seja a configuração, quando nutrida
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Após o banho da manhã, ele vestiu as calças, colocou as meias, os sapatos, se aprumou, e espelho. Sorriu confiante, correspondeu ao reflexo e foi tomar o café. Antes disso, uma passadinha no banheiro dos felinos para limpar as caixinhas
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Enquanto caía, refletia. Logo ao nascer, meio que já via a morte, chegando e se mostrando cada vez mais de perto, e rapidamente. Era como o salto proposital de cima de um edifício, uma ponte ou avião sem paraquedas, mas
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Amor de Pedágio Toda semana, segundas, quartas e sextas, as sete da manhã ele pegava o carro para ir ao trabalho. Operava o monótono tic-tac das planilhas financeiras durante todo o dia, e voltava já tardinha, mesmo-caminho-sentido-contrário, passando pelos quatro
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“Eu acho que devia existir um perfume de chuva. Um perfume daqueles, entorpecentes. Daqueles que te fazem parar, olhar ao redor e fechar os olhos. Um rodopio inebriante, você quase cai no chão, mas continua a procurar pois já virou
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Ela queria escrever. Seu pai não queria. Optou por si. Taí, já de cara, o primeiro motivo: ser-se. Manifestar-se. Vomitar a vontade e saborear a cor que se produz. Quero então, e escrevo primeiramente sobre o desejo, que é esse
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Foi um daqueles casos cujo intento era outro, mas que acabara como sempre. É surpreendente quando Nietzsche acerta na mosca ao dizer que as coisas sempre retornam, sempre repetimos comportamentos aprendidos, cristalizados; o eterno retorno de todas as coisas, para-todo-e-sempre.
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Ela queria, ela podia. Se tinha tinta, pintava. Depois emoldurava. Pregava na parede da cozinha, torto. Se papel, escrevia; se grafite, apagava; se caneta, eternidade. Se tinha dinheiro no bolso, viajava, e lá, gastava, comia, restaurante, massa; vermelha. Se taça,
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