Magrela

Outro dia comeu uma tartaruga. 

No outro um avestruz. Anteontem Zebra, uma listra atrás da outra.
Ora Mico Leão, Ariranha e até Urubu, bastava andar, correr, rastejar ou até nadar, vide a fase dos pinguins. 

Ora em pé, deitado ou de ladinho, quem ditava a pose era o bichinho, ou bichão, como foi com o leão, o  Hipopótamo… ou a girafa; e neste caso, que trabalho pra trepar o pescoção. Que manobra, um balé, malabarismo-ninfo nas alturas, escada e até equipamento de segurança, um perigo de tesão.

Pois que resultou em amor, que o difícil sempre vence; o impossível da savana agora é gozo, um deleite animal e rastejo ao pés daquela elegância que pra mim não mais selvagem. Humana, Veridiana segurando taças, Champagne para celebrar natais, eu e ela e meu padrinho elefante, todos dançando no salão, ela e eu rodopiando e os outros só suspiro; eu também, afortunado libertino.

Há quem empaque com outros tipos, insetos, peixes… até gente, dita gostosa e tal, mas não! Nada se compara aos trejeitos da magrela. Seu olhar, sua mordidinha, seu jeitinho de dormir… como desperta, espreguiça, estica aquelas pernas e levanta com tesão…
Tive que dar meus pulos, é claro (alguns bem altos) que essa relação inter-espécie tem lá os seus percalços, seus segredos. Por exemplo, “beijo logo cedo só biquinho” ela me disse, “que “esse bafo de homem é de matar”.

Fungar no cangote pode, mas demora; ela adora e se treme toda. Digo, tremedeira, vibrações mesmo, um frisson, que pode ser um  grande problema pois nesses momentos sempre esqueço o capacete; e queda com tesão normalmente não combina.

Sobre as posições invertidas, também tivemos que conversar. Tentamos um 6.669 em pé, mas não rolou; mudamos para 69.009 deitado e aí fluiu; como um rego aberto no meio do deserto, um afluente que por pouco não me afoga de prazer, literalmente. 

Não que eu nunca tenha comido melado, mas a dança desse tipo de  acasalamento nutre uma performance jamais sequer imaginada. Tanto dela quanto minha. 

E assim, Veridiana se lambuzava com as minha acrobacias sexuais: “nunca tinha visto um humano com tamanho ímpeto, voraz,” dizia.

Me jantava com tamanho deleite que depois de um tempo passei a pensar que era eu também um mamífero africano de 4 metros. Passei a me alimentar de frutas no topo das árvores e a dormir de pé. Andava em bando e copulava ao sabor do desejo da minha fêmea sem dar bola à concorrência; eu era demasiado exótico para qualquer afrontamento.

Então, dia após dia, e na rotina do reino animal (que jamais concebeu métodos contraceptivos), concebemos; parimos meia dúzia de seres ainda indefinidos, mais altos que baixos, menos fortes que magros, e altos. Mestiços, em linguagem de homem; e estranhos.

Prontos para habitar dois mundos.

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